segunda-feira, 29 de novembro de 2010

               Crianças ligadas à corrente

                        

  É como se estivessem ligadas à corrente, as crianças com hiperactividade parecem estar sempre a mexer-se e a mexer em tudo, mostrando uma extrema dificuldade de concentração.
 O baixo rendimento escolar é uma das consequências.

 Imaginemos uma criança que não pára quieta.
Que não consegue estar dois minutos seguidos sentada à mesa ou que, quando está, mexe em tudo e abana as pernas sem cessar.
  Que liga a televisão mas perde o interesse num ápice, trocando-a pela consola e logo depois por outro qualquer jogo, sem se empenhar em qualquer uma das actividades.
  Que corre pela casa, dá pulos no sofá e na cama, sem parecer cansar-se.
  E que na escola é incapaz de se concentrar cinco minutos que seja, deixa as tarefas a meio, interrompe os outros a todo o instante, é constantemente repreendida pelo professor e alvo da troça dos colegas. 
  
   Esta é, provavelmente, uma criança hiperactiva, que sofre de Perturbação de Hiperactividade e Défice de Atenção.
     Um comportamento que afecta sobretudo os rapazes  três vezes mais do que as raparigas. E em Portugal estima-se que abranja três a sete por cento das crianças em idade escolar.
     São crianças para quem todos os estímulos são percebidos e seguidos de acção.
     Mas para que o diagnóstico seja de hiperactividade não bastam algumas semanas de uma agitação excessiva.
    Apesar de invulgar, esse comportamento pode ser meramente circunstancial e dever-se, por exemplo, a uma mudança de casa ou ao nascimento de um irmão.
    A situação só é preocupante quando as perturbações comportamentais se prolongam para além de seis meses e se manifestam antes dos sete anos: a diferença mede-se pela cronicidade e intensidade da falta de atenção, da impulsividade e da agitação.

     Não está bem identificada a causa desta perturbação.
     Os investigadores dividem-se: uns apontam para origens biológicas, outros encontram explicações em factores familiares e sociais.
     Não está provada nenhuma das teses, embora seja aceite um meio-termo – estas crianças terão uma vulnerabilidade genética a que podem juntar-se circunstâncias psicossociais desfavoráveis, como condições de vida difíceis ou acontecimentos desestabilizadores.
                                   
                                       A ajuda dos pais

   A hiperactividade afecta tanto as crianças como os pais, que se esgotam em múltiplas tentativas para lidar com esta situação difícil.
   De tudo experimentam e muitas vezes sentem faltar-lhes a coragem.
   Mas podem, de facto, ajudar os filhos a concentrar-se e a protagonizar comportamentos mais tranquilos e estáveis.
                              Aqui ficam algumas sugestões:

• Criar regras simples e explicar à criança o que pode acontecer se transgredir, sendo que os castigos devem ser rápidos e consistentes, além de justos naturalmente;
• Estabelecer horários e prazos, uma forma de ajudar estas crianças que estão em constante actividade, se distraem e esquecem facilmente das suas tarefas;
• Acompanhar a criança no desempenho das suas tarefas, de modo a combater as dificuldades de concentração;
• Recompensar os esforços, não apenas os bons resultados.
Rendimento escolar ameaçado
                          
                            Depois de feito o diagnóstico, é necessário intervir.

A maioria destas crianças é medicada, à base de um psicoestimulante que lhes confere maiores períodos de atenção.
 Não conduz, porém, à cura, com os terapeutas a considerarem que esse caminho – traçado por um especialista do comportamento  deve ser trilhado em conjunto por pais e educadores.
Estas crianças enfrentam, com frequência, grandes dificuldades escolares e relacionais.
 São criticadas e rejeitadas pela família e pela escola aqui têm poucos colegas, porque não conseguem integrar-se, ao mesmo tempo que angariam constantes comentários negativos dos professores devido ao défice de aprendizagem e atenção.
À hiperactividade juntam-se, muitas vezes, perturbações da linguagem e da leitura, o que dificulta a sua integração na aula.
 E à medida que se sentem rejeitadas, estas crianças tendem a desenvolver uma timidez excessiva e a temer o fracasso, o que as leva a fecharem-se sobre si próprias, podendo abrir as portas a um estado depressivo.
 Perante este quadro é necessário intervir.
                                           Na escola e em casa. 
    Porque os medicamentos apenas oferecem transitoriamente a possibilidade de se comportarem de forma diferente, interrompendo o processo de rejeição, mas não resolvem a perturbação.
     Daí que os medicamentos sejam, em regra, associados às chamadas terapias comportamentais e cognitivas, destinadas tanto às crianças como aos pais.

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